O Museu Comunitário do Território de Sapupara – MCTS é um museu a céu aberto, localizado no distrito de Sapupara, município de Maranguape, região metropolitana de Fortaleza, Ceará. A constituição desse movimento deu-se a partir da junção de moradores desta localidade com o intuito de fomentar a educação patrimonial e o direito à história e à memória. Escolhendo o inventário participativo como método de conhecimento e registro dos bens culturais deste território, sendo construído a muitas mãos. O núcleo do MCTS é responsável por pesquisas e inventários que envolvem a constituição deste equipamento museal. Busca, desde o seu princípio (2016), pensar e escrever a História vista a partir dos de baixo (THOMPSON,2001) tendo a oralidade como principal fonte e articulação entre presente e passado, e nos troncos velhos referência do que somos, fomos e o que ainda seremos. Compreendemos o território como um espaço museal, quando sua potência viva transborda as estruturas tradicionais de um museu tido como oficial, em quatro paredes. Pois, todo o território tem memória e História. Esse mesmo grupo de moradores, em 2016 decidiu ocupar o antigo prédio da lavanderia pública de Sapupara, a fim de que o equipamento tornasse o museu da comunidade, sendo esse o marco inicial do movimento. Entretanto, sujeitos oriundos de uma família abastada, desde os tempos coloniais, reivindicaram o prédio como pertencente a eles e com o uso da força colocaram ao chão, literalmente, esse sonho. Com tal atitude, decidimos que não iríamos desistir do museu comunitário, ao invés, agora todo o território seria o museu da comunidade, um museu de território, um museu vivo, abrangendo as perspectivas, buscando fomentar o turismo comunitário e a geração de emprego e renda. Nesse percurso, tivemos e temos vários momentos para inventariar bens culturais de Sapupara. Ainda em 2016 começamos o primeiro inventário construído especificamente sobre as trabalhadoras da lavanderia e o cotidiano nesse espaço, entrevistamos Dona Mariinha e Dona Irimar, das que ainda estavam em vida. Desde esse período estamos em trabalho continuado, seja em novas entrevistas, principalmente com os moradores mais antigos, seja na proposição de exposições (“sobre a construção da igreja católica de Sapupara 2020”, “Nossa gente, nosso patrimônio 2021”), Seminário 200 anos da revolta dos povos indígenas de Maranguape, Ce, a produção audiovisual (“Joaquim Tomé Pinto”), mesa redonda “Nós contamos nossa História: experiências de museus comunitários no Ceará” (Festival Vagalume 2021-2022), nas primaveras de museus (2020,2122,23), e entrada da organização na Rede Municipal de Museologia Comunitária de Maranguape (2021), integrantes da Rede Cearense de Museus Comunitários (2024) e Observatório Brasileiro de Ecomuseus e Museus Comunitários (2024). No ano de 2021 o MTS - Museu Território de Sapupara, juntamente a Escola Municipal João Cirino Nogueira realizou, com estudantes do 6° ao 8° ano do turno da tarde, oficina de Inventário Participativo, com o objetivo de inventariar saberes, lugares, troncos de resistência, objetos, celebrações, formas de expressão, e catalogá-los para a construção coletiva da trilha “Rara Beleza - 2021” que compreende a comunidade de Bragantino. Na ocasião, foram catalogados 40 bens culturais nas categorias citadas acima, os mesmo participantes construíram um mapa onde estão dispostos esses bens, também construíram a exposição “Nossa gente, Nosso patrimônio - 2021”, sobre moradores que representam as lutas e resistência do povo daqui, Seu Emanoel (Agricultor), Dona Mundinha (Rezadeira), Ricardo Buduca (Líder Comunitário, agitador cultural), Dona Maria do Carmo (Bordadeira), Seu José Emídio (Rezador). Também tivemos como resultado a concretização da Trilha “Rara Beleza”, localizada na região oeste do distrito, um caminho antigo que se conecta com outros municípios (Caucaia) e distritos (Penedo e Papara) , chamado de Bragantino. Por essas terras correm riachos como o Gereraú, há serrotes onde moradores contam os mais antigos verem correntes de ouro ao seu redor e que no pé de um desses serrotes há um buraco onde uma mulher feita escrava caiu ao tentar fugir de uma fazenda localizada no território de Sapupara e que até hoje moradores escutam seus gritos de socorro. Também encontraremos muitas paisagens, o Centro Holístico Gavião, um barzinho muito especial chamado Correia e a revelação de um segredo no final da trilha, um banho nas cachoeiras do percurso do rio Gereraú. Esse projeto é relevante não somente para a História do distrito de Sapupara, conhecido como forte produtor de cachaças desde o final do século XIX até mais da metade do século XX, são exemplo (“Vovó jóia", “Sapupara”, "Ypióca","Dandiz"), mas também para a História do Município de Maranguape, escrita, até o presente momento, a partir da perspectiva das elites locais e da perspectiva do centro “político, econômico e histórico”, onde estão localizados os equipamentos ditos oficiais. Mas principalmente, é de suma importância para a História do Brasil ao colocar luz, através de pesquisas como o Seminário realizado em 2021 sobre a Revolta dos Povos Indígenas de Maranguape (REVISTA INSTITUTO DO CEARÁ, 1995) movimento de insurgência dos povos originários que em 2022 completou 200 anos. Reivindicavam perante a coroa portuguesa o direito à permanência nas terras que compreende o território de Sapupara, que mais tarde foram roubadas por um dos fundadores do município de Maranguape, Joaquim Lopes de Abreu. O fortalecimento do acervo que ainda compreende, dentre outras fontes, cópias de fotografias de Sapupara (anos 1980/90) cedidas pela ASMOSA (Associação dos moradores de Sapupara), fotografias do acervo da Escola João Cirino Nogueira (anos 2000), acervo da Quadrilha Junina Meu Pé de Serra (anos 1980/90, 2000) , jornais, produções audiovisuais (reportagens, clips, documentários), além da literatura em que o território é mencionado. Em 2023 o núcleo educativo do MCTS, através do Projeto Guardiões da História de Sapupara, realizou na Escola João Cirino Nogueira mais uma oficina de Inventário Participativo, objetivando a concretização de um espaço físico do Museu Comunitário. Objetivo alcançado no primeiro semestre de 2024.

Museu Comunitário do Território de Sapupara

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